Poema - Manuel Monteiro
A BODEGA SANTO ANTONIO
Lá no Sítio onde eu morava
De nome CM da ladeira
Existia uma bodega
Aberta a semana inteira
Vinha gente com três léguas
Pra nela fazer a feira.
Nela existia de tudo
Que alguém quisesse comprar
Tinha um banco de aroeira
Prumóde a gente sentar
Cuia e litro pra medir
E balança pra pesar.
Genésio Góes Carolino
Era o velho bodegueiro
Sertanejo de vergonha
Media o peso certeiro
Tanto vendia fiado
Como vendia a dinheiro.
Os preços de seu Genésio
Chamava o povo atenção
Pesava certo e media
No litro ou no quarteirão
Recebia o povo bem
Como se faz no Sertão.
Na sua bodega tinha
Caco de torrar café
Sal grosso e açúcar preto
Querosene jacaré
Colher de pau e chaleira
E gamela de lavar pé.
Peneira, arupemba e ralo
Cachimbo e fumo de rolo,
Quebra-queixo e sorda preta
Cocada sequilho e bolo
Galinha feita de açúcar
Pé de moleque e consolo
Nessa bodega vendia
Esteira e bolsa de palha
Espelho de bolso e lenço
Vela e cabo de navalha
Trança de alho e cebola
Coentro e pau de cangalha.
Garajau de rapadura
Alpargata de pneu
Um chifre dependurado
De uma vaca que morreu
Com um letreiro dizendo
Esse daqui é seu.
Falando de alimentos
De maior necessidade
Feijão, arroz e farinha
Tudo tinha em qualidade
Em cilo, caixão e sacos
De primeira qualidade
Melão e batata doce
Melancia e jerimum
Queijo de coalho e manteiga
Xerém e arroz comum,
Bodegueiro igual Genésio
Nunca mais eu vejo um!
Fonte:
Extraído do poema: A bodega Santo Antonio , de Manuel Monteiro (poeta popular). Campina. Grande: FUNCESP — Fundação de Cultura e Esportes do Município, jun. / 2000.